A partir do Concílio Vaticano II, a aproximação entre a Igreja católica e as outras Igrejas e Comunidades eclesiais fez grandes progressos. Pedras miliares deste caminho foram principalmente a ab-rogação das excomunhões de 1054 entre Roma e Constantinopla, as Declarações cristológicas com as antigas Igrejas do Oriente, e a assinatura da Declaração comum sobre a Doutrina da Justificação com a Federação Luterana Mundial. O verdadeiro fruto do diálogo ecumênico é, contudo, a fraternidade que os cristãos reencontraram. De fato, hoje já não nos consideramos inimigos ou concorrentes e já não somos indiferentes uns aos outros. Voltamos a descobrir que somos irmãos e irmãs a caminho rumo à unidade, àquela unidade querida por Cristo. Esta redescoberta não foi o resultado de um filantropismo liberal ou de um vago espírito de família; ela baseia-se no reconhecimento do único batismo (cf. Ut unum sint, 42).
Os grandes acontecimentos ecumênicos do Jubileu de 2000, as visitas do Papa a alguns países de maioria ortodoxa e as visitas realizadas pelos Patriarcas ortodoxos a Roma, como por exemplo, a do Patriarca da Igreja ortodoxa romena, Sua Beatitude Teoctisto, no ano passado, assim como os "Dias de Oração pela paz no mundo" de Assis em 1986 e em 2002, realçaram os progressos ecumênicos realizados até agora. Este caminho de aproximação, como recordou várias vezes o Santo Padre, é irreversível. Foi o próprio Cristo que o traçou para nós, Ele que, na vigília da sua morte, rezou para que "todos sejam um só" (Jo 17, 21).
Apesar de tais progressos, não se pode deixar de notar que a aproximação ecumênica, no curso dos últimos anos, se tornou mais lenta e também mais difícil. Começou a faltar o entusiasmo originário que muitas vezes provinha de expectativas utópicas, e surgiram novas dificuldades. Com as Igrejas Ortodoxas, depois da mudança política dos anos 89/90, surgiu o problema do chamado "uniatismo". No que se refere ao diálogo com as Comunidades eclesiais do Ocidente, as dificuldades maiores concentram-se, sobretudo na questão eclesiológica e, em particular, sobre o ministério eclesial. A situação torna-se mais complexa também devido à existência de respostas diversas a alguns problemas éticos fundamentais. Estamos cada vez mais desiludidos com o fato de ainda não ser possível participar juntos na mesa do Senhor.
Nesta situação, um crescente ativismo não é suficiente para fazer progredir o movimento. Sem dúvida, não devemos reduzir o compromisso e devemos continuar a fazer tudo o que for possível, mas a unidade da Igreja não se realiza com a nossa vontade humana. A unidade é um dom do Espírito Santo. Nós podemos rezar apenas para que Deus derrame sobre nós o seu Espírito e conceda um novo Pentecostes. Numa situação que hoje se tornou mais difícil, devemos antes de mais fazer referência às raízes espirituais mais profundas do nosso empenho ecumênico. O Concílio Vaticano II falou do movimento ecumênico como de um impulso do Espírito Santo (cf. Unitatis redintegratio, 14) e realçou: "Esta conversão do coração e esta santidade de vida, juntamente com as orações privadas e públicas pela unidade dos cristãos, devem ser consideradas como a alma de todo o movimento ecumênico e podem justamente chamar-se ecumenismo espiritual" (Ibid., n. 8). É precisamente da força dinâmica do Espírito Santo que temos necessidade para imprimir um novo impulso ao compromisso ecumênico.
A "Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos", promovida pelo Padre Paul Irénée Couturier, é justamente considerada como um dos acontecimentos fundamentais do movimento ecumênico. Esta "Semana" do mês de Janeiro, cuja conclusão coincide com a Festa da conversão do Apóstolo Paulo, a 25 de Janeiro e que, nalguns países, é celebrado no Pentecostes, é o fulcro e o ápice das atividades ecumênicas do ano litúrgico. Além dela, devem ser mencionadas várias iniciativas e realidades espirituais. Recordo, por exemplo, o "Dia mundial de oração das mulheres", que começou em 1927; a grande carga espiritual que emana da comunidade de Taizé e que envolve sobretudo os jovens; a rede mundial da "Arche" fundada por Jean Vanier em 1964 e composta por comunidades de pessoas deficientes; os numerosos mosteiros e movimentos espirituais cujo carisma é precisamente a oração pela unidade; o intercâmbio espiritual entre mosteiros no Ocidente e no Oriente, entre comunidades religiosas e com comunidades anglicanas e evangélicas.
É muito importante a leitura e a meditação da Sagrada Escritura. De fato, a Bíblia é o fundamento comum e o alimento espiritual da qual tiram inspiração todas as Igrejas e Comunidades eclesiais.
Sobre a Sagrada Escritura e sobre a sua interpretação, dividiram-se católicos e protestantes; eles devem encontrar-se hoje de novo na Sagrada Escritura. Aprendemos da Bíblia que não podemos ser cristãos e que não pode existir ecumenismo verdadeiro sem a conversão dos corações; sem perdão recíproco dos juízos injustos e dos actos cometidos por uns contra os outros; sem purificação da memória; sem renovação da vida espiritual dos indivíduos e da Igreja no seu conjunto; e também sem a santificação pessoal.
O restabelecimento da plena comunhão é uma tarefa espiritual, antes de ser institucional. O diálogo ecumênico é muito mais do que uma simples troca de opiniões. Dado que constitui um intercâmbio de dons, ele é um processo existencial e espiritual (cf. Encíclica Ut unum sint, 28), em que os cristãos de todas as Igrejas se abrem uns aos outros, prontos para se ouvirem reciprocamente, se compreenderem e se aceitarem, dispostos a aprender uns com os outros; para receberem e se deixarem enriquecer mutuamente e para crescerem juntos num só Espírito. Este movimento horizontal só é possível se estiver inscrito no âmbito do movimento vertical de uma oração incessantemente elevada pelo advento do Espírito Santo, o Espírito de unidade, de paz e de amor para com Deus e para com o próximo.
Por isso, falamos da prioridade da oração. De fato, podemos ter a certeza de que o Pai nos há de conceder tudo o que lhe pedimos em nome de Jesus (cf. Jo 15, 16). E que dom podemos pedir em nome de Jesus, que seja mais precioso do que a unidade dos seus discípulos?
Os grandes acontecimentos ecumênicos do Jubileu de 2000, as visitas do Papa a alguns países de maioria ortodoxa e as visitas realizadas pelos Patriarcas ortodoxos a Roma, como por exemplo, a do Patriarca da Igreja ortodoxa romena, Sua Beatitude Teoctisto, no ano passado, assim como os "Dias de Oração pela paz no mundo" de Assis em 1986 e em 2002, realçaram os progressos ecumênicos realizados até agora. Este caminho de aproximação, como recordou várias vezes o Santo Padre, é irreversível. Foi o próprio Cristo que o traçou para nós, Ele que, na vigília da sua morte, rezou para que "todos sejam um só" (Jo 17, 21).
Apesar de tais progressos, não se pode deixar de notar que a aproximação ecumênica, no curso dos últimos anos, se tornou mais lenta e também mais difícil. Começou a faltar o entusiasmo originário que muitas vezes provinha de expectativas utópicas, e surgiram novas dificuldades. Com as Igrejas Ortodoxas, depois da mudança política dos anos 89/90, surgiu o problema do chamado "uniatismo". No que se refere ao diálogo com as Comunidades eclesiais do Ocidente, as dificuldades maiores concentram-se, sobretudo na questão eclesiológica e, em particular, sobre o ministério eclesial. A situação torna-se mais complexa também devido à existência de respostas diversas a alguns problemas éticos fundamentais. Estamos cada vez mais desiludidos com o fato de ainda não ser possível participar juntos na mesa do Senhor.
Nesta situação, um crescente ativismo não é suficiente para fazer progredir o movimento. Sem dúvida, não devemos reduzir o compromisso e devemos continuar a fazer tudo o que for possível, mas a unidade da Igreja não se realiza com a nossa vontade humana. A unidade é um dom do Espírito Santo. Nós podemos rezar apenas para que Deus derrame sobre nós o seu Espírito e conceda um novo Pentecostes. Numa situação que hoje se tornou mais difícil, devemos antes de mais fazer referência às raízes espirituais mais profundas do nosso empenho ecumênico. O Concílio Vaticano II falou do movimento ecumênico como de um impulso do Espírito Santo (cf. Unitatis redintegratio, 14) e realçou: "Esta conversão do coração e esta santidade de vida, juntamente com as orações privadas e públicas pela unidade dos cristãos, devem ser consideradas como a alma de todo o movimento ecumênico e podem justamente chamar-se ecumenismo espiritual" (Ibid., n. 8). É precisamente da força dinâmica do Espírito Santo que temos necessidade para imprimir um novo impulso ao compromisso ecumênico.
A "Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos", promovida pelo Padre Paul Irénée Couturier, é justamente considerada como um dos acontecimentos fundamentais do movimento ecumênico. Esta "Semana" do mês de Janeiro, cuja conclusão coincide com a Festa da conversão do Apóstolo Paulo, a 25 de Janeiro e que, nalguns países, é celebrado no Pentecostes, é o fulcro e o ápice das atividades ecumênicas do ano litúrgico. Além dela, devem ser mencionadas várias iniciativas e realidades espirituais. Recordo, por exemplo, o "Dia mundial de oração das mulheres", que começou em 1927; a grande carga espiritual que emana da comunidade de Taizé e que envolve sobretudo os jovens; a rede mundial da "Arche" fundada por Jean Vanier em 1964 e composta por comunidades de pessoas deficientes; os numerosos mosteiros e movimentos espirituais cujo carisma é precisamente a oração pela unidade; o intercâmbio espiritual entre mosteiros no Ocidente e no Oriente, entre comunidades religiosas e com comunidades anglicanas e evangélicas.
É muito importante a leitura e a meditação da Sagrada Escritura. De fato, a Bíblia é o fundamento comum e o alimento espiritual da qual tiram inspiração todas as Igrejas e Comunidades eclesiais.
Sobre a Sagrada Escritura e sobre a sua interpretação, dividiram-se católicos e protestantes; eles devem encontrar-se hoje de novo na Sagrada Escritura. Aprendemos da Bíblia que não podemos ser cristãos e que não pode existir ecumenismo verdadeiro sem a conversão dos corações; sem perdão recíproco dos juízos injustos e dos actos cometidos por uns contra os outros; sem purificação da memória; sem renovação da vida espiritual dos indivíduos e da Igreja no seu conjunto; e também sem a santificação pessoal.
O restabelecimento da plena comunhão é uma tarefa espiritual, antes de ser institucional. O diálogo ecumênico é muito mais do que uma simples troca de opiniões. Dado que constitui um intercâmbio de dons, ele é um processo existencial e espiritual (cf. Encíclica Ut unum sint, 28), em que os cristãos de todas as Igrejas se abrem uns aos outros, prontos para se ouvirem reciprocamente, se compreenderem e se aceitarem, dispostos a aprender uns com os outros; para receberem e se deixarem enriquecer mutuamente e para crescerem juntos num só Espírito. Este movimento horizontal só é possível se estiver inscrito no âmbito do movimento vertical de uma oração incessantemente elevada pelo advento do Espírito Santo, o Espírito de unidade, de paz e de amor para com Deus e para com o próximo.
Por isso, falamos da prioridade da oração. De fato, podemos ter a certeza de que o Pai nos há de conceder tudo o que lhe pedimos em nome de Jesus (cf. Jo 15, 16). E que dom podemos pedir em nome de Jesus, que seja mais precioso do que a unidade dos seus discípulos?
Fonte: http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/chrstuni/documents/rc_pc_chrstuni_doc_20030202_kasper-preghiera_po.html